sexta-feira, 24 de julho de 2009

Lamento Sertanejo

(Dominguinhos/Gilberto Gil)

Por ser de lá do Sertão
Lá do cerrado
Lá do interior, do mato
Da caatinga, do roçado
Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigo
Eu quase que não consigo
Ficar na cidade sem viver
Contrariado.
(...)
Sou como rês desgarrada
Nessa multidão, boiada
Caminhando a esmo.

Não sou do sertão, mas é como se fosse. Vivo nele. Estou no sertão. Louco para ver o mar e a sua imensidão, e ficar ali parado, admirando, pensando como pode tanta água não servir p'ra beber. Sentir a brisa do mar, sopro divino de liberdade, fazendo cócegas nos meu braços, me acariciando. Como seria bom sentir suas carícias... não sei o que seja isso, mas imagino que sensação maravilhosa seria recebê-las... um arrepio. Quem se acostumou tanto com o arreio e a enxada tem mão grossa demais para fazê-las. Imagino que talvez nem saiba recebê-las, mas que mal faz sonhar.

Certa vez, consegui ler uma frase de caminhão, por entre a poeira que ele levantava: "sou do tamanho que vejo e não do tamanho da minha altura". Carái... intão eu posso ser do tamãnhi dessa poeira que me cega, até as estrela que'u nunca vi... eu posso ser do tamãnhi do infinito... do tamãnhi que'u quiser...

O que só tenho percebido agora é que isso leva tempo, pois envolve duas questões: a primeira, eu preciso saber o que eu vejo (ora pois, sabemos que ver é diferente de enxergar, e que nem tudo que reluz é ouro). Em seguida, de que tamanho eu quero ser.

Talvez eu não tenha tempo para perder pensando nisso... talvez pensar nisso seja ganhar tempo... o que para muitos é difícil de entender é que tempo, para mim, é fundamental e questão de ordem.

Para quem viveu tão pouco e se privou de tanto, cada segundo perdido é, de fato, um segundo perdido... é a certeza que há tantos segundos lá fora, esperando para serem perdidos, e eu perdendo segundos... minutos... horas... aqui dentro. Espero que uma dia chegue a conclusão que a preocupação com o tempo é imaturidade, ou foi imaturidade.

Viver a vida não é o bastante pra mim. Isso é o que eu faço todo dia. Eu quero tocar a vida, quero abraçá-la, quero prová-la com minúncia, sentindo as nuances do seu sabor nas diferentes regiões da minha língua. Para depois vê-la por inteiro e por fim niná-la.

terça-feira, 7 de julho de 2009

"Cê" tem toda razão

não tenho inveja da maternidade
nem da lactação
não tenho inveja da adiposidade
nem da menstruação

só tenho inveja da longevidade
e dos orgasmos múltiplos
e dos orgasmos múltiplos
eu sou homem
pele solta sobre o músculo
eu sou homem
pêlo grosso no nariz

não tenho inveja da sagacidade
nem da intuição
não tenho inveja da fidelidade
nem da dissimulação

só tenho inveja da longevidade
e dos orgasmos múltiplos
e dos orgasmos múltiplos
eu sou homem
pele solta sobre o músculo
eu sou homem
pêlo grosso no nariz

(Homem - Caetano Veloso, álbum Cê)
Concordo co-cê caÊ...

obs: fiquei fã extremamente tarde de caetano...