Foi o que me veio à cabeça ao assistir Ensaio sobre a Cegueira, apesar da linguagem do cinema não permitir a mínima reflexão um pouco menos superficial pela velocidade da ação e das imagens.
Irei me referir ao livro pelo brilhantismo da obra, que a meu ver, é leitura obrigatória para todo ser humano aprender a ser humano. Todos sempre estiveram cegos e nunca perceberam. A mesma diferença de ver e olhar é também estabelecida em viver e passar pela vida simplesmente, sem dar valor as pequenas coisas que nos fariam falta se o brilho dos olhos nos faltasse. O excesso de informação proporcionado pela visão ofusca a importância que não só essas pequenas coisas, mas as pessoas têm em nossa vida.
Se enxergar seria uma dádiva quando todos estam cegos, é também uma grande responsabilidade, um peso que escraviza.
O início de uma nova ordem social pôs fim a todos os valores previamente estabelecidos. Os códigos sociais são reduzidos à barbárie. Os instintos revelados são os mesmos que escondemos sob máscaras sociais.
A cegueira que representava também a alienação, a necessidade veemente de que todos acordem para modificar a realidade presente. Para provocar algum tipo de mudança social, apenas com o (re)nascimento da sociedade. E para que todos saibam do horror que antes viviam e que viveram, era necessário que apenas um não perdesse a visão, para ensiná-los e guiá-los com os erros cometidos.
A cegueira é diferente da patológica, não poderia ser representada pela escuridão, ou a ausência de cor. Mas como um excesso, a mistura de todas as cores (e coisas) também não mostra coisa alguma. É como se ele dissesse que nós que sempre vemos tudo, não enxergamos nada a nossa volta.
Saramago chama para uma tomada de consciencia do homem perante sua condição no mundo.
Tentar escrever qualquer outro tipo de análise seria pretencioso demais e para tal tarefa sinto-me, porque não, também cego. Cego sim por perceber que mesmo após ter ficado chocado, terem tentado me abrir os olhos, continuo cego. Porque para um cego, tanto faz estar de olhos abertos ou fechados.