sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Só pra variar... um poema de Fernando Pessoa

Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei
com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se
existe (se é esses outros)...
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me
ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me
ponta
traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha,
nem ela
julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros
espelhos fantásticos
que torcem para reflexões falsas
uma única anterior
realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente
árvore (?) e até a flor,
eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas
alheias, em mim, incompletamente,
como se o meu ser participasse de todos os
homens,
incompletamente de cada (?),
por uma suma de não-eus
sintetizados num eu postiço."

Um comentário:

Anônimo disse...

esse pessoa não é gente!