domingo, 30 de agosto de 2009

Eu uso sinédoque, e daí...

tudo começou com meu irmão me pedindo para olhar no google o significado de sinédoque, palavra ausente do aurélio. Dentre tantos sites que explicavam, encontrei um texto que colo abaixo.

Esse é um post mensagem e o destinatário entenderá! Não sei falar sem sinédoque. Isso não significa que concorde completamente com o texto, porque no ápice da confusão e desgaste gerado numa conversa devido a uma simples sinédoque utilizada, nunca troquei um amigo pela sinédoque, ao contrário do autor do texto.

"Já faz um tempinho um jornalista que se dizia meu amigo veio torrar minha paciência com a seguinte frase: “não vale generalizar”. Ora, quando eu escuto alguém dizer isso, sei que o que vem adiante é estupidez.

Em certa medida escrever é generalizar. No caso específico do texto jornalístico (e também no texto literário), a generalização que comumente usamos é uma figura de linguagem autorizada pela gramática. Chama-se sinédoque. Todos nós podemos escrever o que escrevemos por causa da sinédoque. Sem ela, ficaríamos horas diante do teclado e não sairia nada – nadinha.

A sinédoque é a figura de linguagem que nos permite dizer coisas do tipo “o jogador brasileiro é habilidoso” ou “as mulheres são muito falantes” ou “os franceses são enjoados” e assim por diante. Em nenhum dos casos o leitor inteligente deverá, diante de alguém que escreve de modo inteligente, fazer a objeção “ah, nem todo francês é enjoado, isso é preconceito”. O mesmo vale para os outros exemplos. Ninguém deve dizer “ah, nem todo jogador brasileiro de futebol é habilidoso, hoje em dia a habilidade está com os italianos”. É outra bobagem. A sinédoque dá completa liberdade para que as características mais amplas sejam utilizadas em associação a um termo que, sem a figura de linguagem, não mereceria a característica imputada. Essa figura de linguagem é das mais importantes. Por uma razão simples: tente escrever sem ela. Tente e verá como é difícil, talvez impossível.

A sinédoque é o que alguns desinformados tomam por “generalização”, e então pensam poder acusar quem está “generalizando” de ato impróprio. Ora, não podemos escrever frases do tipo "os são-paulinos são barulhentos, mas o Huguinho, o Zezinho e o Luisinho, e mais o fulano X e o Y, não são". Não faria qualquer sentido um texto assim. Ou seja, quando escrevemos optamos quase que naturalmente pelo uso de vários tipos de sinédoque. Falamos sem medo de quem alguém acredite que se está falando do Huguinho ou do Zezinho etc., torcedores do São Paulo, que “os são paulinos são barulhentos”. O leitor inteligente sabe disso. O leitor inculto não. O leitor inculto e, pior, mentalmente limitado inventa de criticar e solta a frase imbecil: “não vale generalizar”. Isso ferve o meu sangue.

Faz algum tempo, o tal jornalista que se dizia meu amigo quis ficar bravo comigo exatamente por causa do que achou que era a tal generalização. Eu disse uma frase desse tipo, “o Partido X é elitista”. Pronto! Do cume da sua má formação, o jornalista inventou de dizer “filosofar é generalizar?”. Quis dar de bonzão. Quis imputar a mim uma raciocínio errado quando, na verdade, era uma sinédoque clara, para poder conversar. Estava feita a desgraça. Eu podia deixar passar. Mas a irritação do cotidiano e a constante falta de modéstia da figura carimbada não me deram chance, e eu rebati. Disse ao jornalista que ele não era a sumidade intelectual que ele queria fazer crer. Em nome da sinédoque, perdi o amigo. Todavia, será mesmo que era amigo?

Claro que a vaidade do tal amigo urso era grande demais para ele admitir que não sabia sinedocar. E então arrebentou em palavrões – aquela coisa do cara que é pego de calça arriada.

Moral da história. A sinédoque garante que possamos continuar escrevendo para todos e tendo mais amigos. Um amigo escolarizado que não conhece a sinédoque pode causar só complicações. Opte pela sinédoque."

Paulo Ghiraldelli Jr, “O filósofo da cidade de São Paulo”.

Fonte: http://ghiraldelli.ning.com/profiles/blogs/sinedoque-e-generalizacao

sábado, 22 de agosto de 2009

"Minha vida é como se me batessem com ela"

(Livro do Desassossego - Fernando Pessoa)

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Desafinado

Só privilegiados têm o ouvido igual ao seu
Eu possuo apenas o que Deus me deu

Se você insiste em classificar
Meu comportamento de anti-musical
Eu mesmo mentindo devo argumentar
Que isto é Bossa Nova, isto é muito natural

Recentemente ouvi uma professora falar sobre as teorias da física quantica que tentam explicar a existência da alma, da consciencia, da empatia... acredita-se que todos emanamos ondas, que seriam nossa alma quantica. A princípio, e para não perder o hábito, pensei que isso era muita besteira, pura fantasia científica para explicar Deus e tudo aquilo que não conseguimos explicar exatamente porque possivelmente não há explicação. A existência divina e sua criação não precisa ser explicada. Tem que acreditar e ponto.


Entretanto, algumas coisas fazem sentido, por exemplo porque o olhar atrai? Quando olhamos para uma pessoa concentramos ondas nesta pessoa, provocando nela a percepção que estamos olhando. Porque algumas pessoas são tão carismáticas naturalmente, qual a explicação para o carisma e a antipatia que sentimos pelo outro? As pessoas carismáticas emitem ondas harmônicas que atream as ondas alheias, têm de fato um magnetismo. As pessoas antipaticas emitem um padrão de onda desarmônico que repeliria tudo.


"Entao explicado... putz..." - pensei lembrando de mim, e de outras pessoas que conheço que têm um magnetismo incrível. Difícil ser o outro lado da moeda, aquele que caiu com o lado para baixo. Existem muitas formas de estar desalinhado, desafinado, des... tantas outras palavras que poderiam caracterizar meu conjunto de ondas sem ritmo que remam para a solidão.

Se os físicos querem explicar minhas ondas, eu lhes respondo que são as ondas que Deus me deu.

domingo, 9 de agosto de 2009

Abre o meio!


Vida de motô(rista) de ônibus não deve ser fácil mesmo...
Além de tudo que já sabemos da rotina diária, outro dia peguei um ônibus daquele que tem uma porta no meio para cadeirantes, e que em alguns pontos estratégicos alguns motoristas resolvem abrí-la para agilizar o desembarque dos passageiros. Pois bem, eu disse alguns motoristas fazem isso. Não todos. Mas a mania de generalização soteropolitana exige que a concessão seja aberta a todos!
Imagine o motorista ouvir o côro dos passageiros:

- ABRE O MEIO MOTÔ!

Isso é no mínimo cômico... Lá ele...


sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Poética popular

(Alphavela João Henrique - Tororó, Salvador/BA)

Há um tempo atrás, quando morava no Tororó, vi crescer a alphavela do Tororó, uma das mais recentes e promissoras invasões de Salvador. Nesta época a invasão me mantinha atualizado com os sucessos do pagode baiano, do arrocha, do forró, dos bordões que andavam na boca do povo, porque afinal, mesmo minha janela estando a uma altura de 8 andares das casas, poderia ouvir suas conversar como se estivessem na minha sala. O Tororó sempre foi um bairro meio classe mé(r)dia média para baixa e com o recente assassinato do líder comunitário a pauladas na cabeça pelo seu amante, precisávamos respirar outros ares, de classe tão mé(r)dia quanto aquele ou melhor.

(Tirei o pé da favela!)

Desaguamos no Rio Vermelho, tradicional bairro boêmio da cidade e curiosamente situado numa encruzilhada de antigas e também tradicionais invasões (atrás da minha rua tem o Vale das Pedrinhas, ao lado o Nordeste de Amaralina e um pouco mais atras Santa Cruz). Infelizmente não ouço mais as músicas e sim a sinfonia dos carros dos futuros doutores da faculdade Ruy Barbosa, entretanto, vez em quando divirto-me com algumas pérolas populares, como este diálogo travado em frente a janela do meu quarto.

- O QUE É VIADO!
- SOU VIADO MESMO, PORQUE? NÃO É DE SUA CONTA O QUE EU FAÇO COM MEU CÚ! PUTA!
- E PRA QUEM EU DOU MINHA BUCETA NÃO É PROBLEMA SEU! TEM UM MONTE DE HOMEM QUERENDO COMER MINHA BUCETINHA... PIOR VOCÊ QUE NINGUÉM QUER COMER SEU CÚ! SEU VIADO FILHO DE UMA PUTA!
- O QUE É SUA VIADA! NÃO XINGUE MINHA MÃE NÃO!
- ÊPA ÊPA ÊPA! QUE ZONA É ESSA AQUI? DOIS VIADO COM DOIS SAPATÃO CONVERSANDO? QUE FOI Q TEVE? - Disse um jovem que chegou, fardado com a mesma farda dos barraqueiros, provavelmente um colega.
- ESSA PUTA, VADIA, TAVA PEDINDO DINHEIRO NA PORTA DO BOMPREÇO!
- MENTIIIIIIIIRAAAAA! MENTIRÔÔÔSOOOO! VIADO MENTIROSO! FILHO DA PUTA!
- E AINDA FICA XINGANDO MINHA MÃE! NÃO FALE DE MINHA MÃE VADIA!
(agora a melhor parte...)
- É ISSO MESMO, FALAR DA MÃE NÃO PODE! XINGAR O PAI PODE PORQUE QUEM ABRIU A BUCETA PRA ME PARIR FOI MINHA MÃE E O PAI NÃO TEM NADA A VER COM A HISTÓRIA!

(Cheirinho de bebê...)

Depois dessa... não aguentei e caí na risada... até anotei. Fiz meu irmão postar no twitter - na época eu ainda não havia aderido aos 140 caracteres, e agora compartilho com vocês para ver se finalmente esse diálogo sai da minha cabeça. Tenham certeza que a baixaria foi muito maior. Mas onde quero chegar com isso. A grande metáfora do parto. Da mesma forma que alguns poetas profetizam o nascimento com metáforas elaboradíssimas, os poetas da vida simplificam o evento. Parir nada mais é que "abrir a buceta". Feio não?! Com certeza, meu nascimento não foi simples desse jeito não... afinal, nasci de cesárea!

obs: o contrário também já ouvi de uma mulher saída do banheiro químico, na lavági do bonfim: terminar de urinar = fechar a buceta.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

dia dos pais


Dia dos pais é sempre uma época difícil. Só de imaginar que ele está chegando já bate aquela melancolia, aquelas lembranças difíceis. Nem tudo foi tristeza, nem sempre foi assim, você pode pensar que é só uma data comercial, e é mesmo, entretanto como tudo na vida carrega um símbolo, um peso inegável de que um dia eu vou me arrepender (ou já me arrependi) de muitas coisas que foram ditas, de muito tempo perdido... sempre é tempo de reparar... tenho medo de não conseguir enquanto ainda dá tempo. O que ele nem imagina, é que quando eu falei no post anterior de quando perdi o controle do carro, o carro girou na pista, etc, ele foi a primeira pessoa que veio a minha mente. Também pelo carro, óbvio, mas... foi ele a primeira pessoa que eu pensei. Ah se ele soubesse... eu poderia falar essas coisas... eu deveria dizer tantas coisas... mas não vou. Parece tão simples, mas se já foi difícil escrever essas poucas linhas, imagina botá-las em prática.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Eu e os carros

"O motor... é o coração do carro... você tem que sentir o motor... sentir a sua aceleração, sentir ele pedindo para passar a marcha..."

(ahh se meu carro falasse...)

O texto que decoradamente meu pai me repete infinitas vezes que fala sobre o carro para mim. E pelo jeito que ele descreve, demorou até compreender que o carro não tem vida própria... quando a merda acontece, a culpa não é simplesmente do carro, ou pior, dos outros (que não sabem dirigir). Sou um barbeiro em recuperação.



Consegui a façanha de no mesmo dia bater o carro em um outro no qual estava sentado um policial mais outros 2 delinquentes (que já renderia outra história), acabar com as calotas do carro e receber 2 multas de velocidade. Sou um perigo à sociedade. Onde o DETRAN estava quando me aprovou, de primeira, nos exames? É a prova da ineficácia desses testes... se até eu consegui, qualquer um consegue... Devo ter passado muita seriedade e confiança por tras da minha seriedade lacônica de quem está se cagando de nervoso.

Pior que tudo isso, é ser tão jumento por ser multado pouco acima do limite de velocidade aceitável. Se é pra ser multado, que seja com louvor... acima de 120 km de velocidade. Foram apenas 4 minutos de diferença entre uma multa e outra. Numa madrugada isso não significa tanto, embora me induza a pensar que eu tenha andado no limite durante todo o percurso e acelerado exatamente para ser fotografado pelos flash dos radares.

("cada mergulho é um flash!")

O saldo disso é que inconsciente, sei que eu queria provar para mim que não era tão péssimo assim. Enquanto todos andavam devagar para não serem fotografados naqueles dois locais em que todos sabiam que existiam radares menos eu, pensava: "que galera lerda é essa? e são 2:30 da manhã?!" e habilmente ultrapassava todos enquanto eles pensavam: "que otário! não sabe que aqui tem radar!"


Curiosamente, procurando fotos para ilustrar esse post, encontrei um flagra glorioso de excesso de velocidade na mesma rua onde fui multado, entretando no sentido oposto. Isso é que é ser multado com estilo!

(Os dois sem capacete, o cara sem camisa, a mulher nua e só vão ser multados por excesso de velocidade? fala sério...)

Para finalizar meu histórico, recentemente perdi o controle do carro na avenida centenário. Foi Deus quem desviou os postes e retirou todos os carros da rua naquele momento.

("Nessas horas passa um filme! Ô louco mêu...")




assisti hoje "o escafandro e a borboleta" e ao contrário do que muitos diziam (que eu não gostaria, que não tenho sensibilidad para o filme e que dormiria), guardarei uma cópia em casa para rever em todos os momentos que eu esquecer a dádiva que é viver. dentro de um escafandro ou não, todos temos borboletas para nos dão força. é o que em parte, ainda me move.

sábado, 1 de agosto de 2009


Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.

A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.

Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...

Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

(paulo sant'anna)