sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Poética popular

(Alphavela João Henrique - Tororó, Salvador/BA)

Há um tempo atrás, quando morava no Tororó, vi crescer a alphavela do Tororó, uma das mais recentes e promissoras invasões de Salvador. Nesta época a invasão me mantinha atualizado com os sucessos do pagode baiano, do arrocha, do forró, dos bordões que andavam na boca do povo, porque afinal, mesmo minha janela estando a uma altura de 8 andares das casas, poderia ouvir suas conversar como se estivessem na minha sala. O Tororó sempre foi um bairro meio classe mé(r)dia média para baixa e com o recente assassinato do líder comunitário a pauladas na cabeça pelo seu amante, precisávamos respirar outros ares, de classe tão mé(r)dia quanto aquele ou melhor.

(Tirei o pé da favela!)

Desaguamos no Rio Vermelho, tradicional bairro boêmio da cidade e curiosamente situado numa encruzilhada de antigas e também tradicionais invasões (atrás da minha rua tem o Vale das Pedrinhas, ao lado o Nordeste de Amaralina e um pouco mais atras Santa Cruz). Infelizmente não ouço mais as músicas e sim a sinfonia dos carros dos futuros doutores da faculdade Ruy Barbosa, entretanto, vez em quando divirto-me com algumas pérolas populares, como este diálogo travado em frente a janela do meu quarto.

- O QUE É VIADO!
- SOU VIADO MESMO, PORQUE? NÃO É DE SUA CONTA O QUE EU FAÇO COM MEU CÚ! PUTA!
- E PRA QUEM EU DOU MINHA BUCETA NÃO É PROBLEMA SEU! TEM UM MONTE DE HOMEM QUERENDO COMER MINHA BUCETINHA... PIOR VOCÊ QUE NINGUÉM QUER COMER SEU CÚ! SEU VIADO FILHO DE UMA PUTA!
- O QUE É SUA VIADA! NÃO XINGUE MINHA MÃE NÃO!
- ÊPA ÊPA ÊPA! QUE ZONA É ESSA AQUI? DOIS VIADO COM DOIS SAPATÃO CONVERSANDO? QUE FOI Q TEVE? - Disse um jovem que chegou, fardado com a mesma farda dos barraqueiros, provavelmente um colega.
- ESSA PUTA, VADIA, TAVA PEDINDO DINHEIRO NA PORTA DO BOMPREÇO!
- MENTIIIIIIIIRAAAAA! MENTIRÔÔÔSOOOO! VIADO MENTIROSO! FILHO DA PUTA!
- E AINDA FICA XINGANDO MINHA MÃE! NÃO FALE DE MINHA MÃE VADIA!
(agora a melhor parte...)
- É ISSO MESMO, FALAR DA MÃE NÃO PODE! XINGAR O PAI PODE PORQUE QUEM ABRIU A BUCETA PRA ME PARIR FOI MINHA MÃE E O PAI NÃO TEM NADA A VER COM A HISTÓRIA!

(Cheirinho de bebê...)

Depois dessa... não aguentei e caí na risada... até anotei. Fiz meu irmão postar no twitter - na época eu ainda não havia aderido aos 140 caracteres, e agora compartilho com vocês para ver se finalmente esse diálogo sai da minha cabeça. Tenham certeza que a baixaria foi muito maior. Mas onde quero chegar com isso. A grande metáfora do parto. Da mesma forma que alguns poetas profetizam o nascimento com metáforas elaboradíssimas, os poetas da vida simplificam o evento. Parir nada mais é que "abrir a buceta". Feio não?! Com certeza, meu nascimento não foi simples desse jeito não... afinal, nasci de cesárea!

obs: o contrário também já ouvi de uma mulher saída do banheiro químico, na lavági do bonfim: terminar de urinar = fechar a buceta.

2 comentários:

Luiza disse...

para combinar com seu texto baixo astral, um comentário baixo astral:

"como se alguma fosse fechada..."

Piolho disse...

ôpa...