domingo, 10 de agosto de 2008

Dia dos Pais

O dia começou para mim ao som de "Um Barzinho, Um Violão - Jovem Guarda", não me recordo ao certo qual música tocava no momento, mas a trilha sonora não poderia ser mais adequada. Uma enxurrada de "dias dos pais" me invadiu os olhos. Minha memória trouxe o gosto amargo de lembranças não tão agradáveis. Teve aquela fomos todos felizes entregar os presentes e ele fez um escândalo que não tinha gostado de uma sandália, e que saberíamos que ele não ia gostar, entao porque compramos? E um dos meus maiores arrependimentos foi em outro ano. "Renato e seus Bluecaps" iria tocar na praça Pedro Arcanjo. Disputadíssimo para assistir, pais e filhos se empurrando na entrada, afinal o ingresso era apenas uma lata de leite e a entrada era liberada até a lotação máxima da praça, a qual teria os portões fechados em seguida e só abertos ao final do show. Fui contrariado, afinal, saímos arrumados para ir ao clube, no caminho uma "dita cuja de uma vizinha avisa sobre o show, e imediatamente fomos rumo ao caminho da Jovem Guarda. Eu não gostava da música, não gostava do lugar, do público, queria ir embora para casa. Foi a minha vez de dar um escândalo e me derramar em lágrimas, até não ter mais o que chorar. Perda de tempo, chantagem emocional nunca teve o mínimo efeito com ele. Ele fazia mais o estilo "vou te dar uma surra pra te dar motivo pra chorar de verdade seu corno filho de uma puta". Num certo momento, eu não sabia nem mais porque estava chorando, nem queria mais chorar. Mas já havia entrado naquele caminho e não ia voltar atrás, só para não demonstrar que ele venceu. É nessas horas que a gente se pensa que se arrependimento matasse... Eu nem era mais tão criança e agi como a pior delas. Os conflitos já haviam se tornado uma tradição de dia dos pais em nossa família. Como para ele "dia dos pais", "dia das mães", "dia das crianças" é todo dia, devo corrigir a afirmação anterior, pois os conflitos eram todo fim de semana, quando todos estavam juntos. Ao menos havia conflitos, brigas e discussões. Hoje foram substituidos pelo silêncio, ao que não sabemos bem ao certo o que seja, uma distância intangível. Somos seres de planetas diferentes, falamos línguas diferentes, ele faz um intercâmbio em minha casa, e eu na dele. Levantei, fui ao banheiro lavar o rosto e pensar em como o cumprimentaria, como desejaria "feliz dia dos pais". Eu falaria algo mais? Daria um abraço? Ao menos um aperto de mão? Não adiantaria planejar nada. Entrei na cozinha para beber dois copos d'água - um ritual de todas as manhãs. Ele veio da área de serviço para terminar de preparar o almoço de domingo. Virou-se para a pia, de costas para mim, coloquei minha mão sobre seu ombro e secamente desejei o que em todas as casas estaria sendo dito também naquele exato momento, das mais variadas formas, mais calorosas possivelmente. Obrigado, ele disse. Somos dois estranhos que se gostam, cada um a seu jeito, sem demonstrações de afeto, como conhecidos que se cumprimentam à distância com um pequeno sorriso de canto de boca, só para serem educados um com o outro.

3 comentários:

ph disse...

Fiu, sério mesmo.. essa é uma situação crítica de convivência que prejudica ambas as partes. Praticamente toda familia tem problemas entre Pai e filho mas isso não justifica essa sua postura em relação ao seu pai. Aqui em casa eu convivo, assim como todo mundo, com conflitos diariamente.. Meu pai não consegue ficar 1 dia sem reclamar de alguma coisa comigo.. Mas ai eu me pergunto: Vale a pena olhar só pelo lado negativo? Hoje eu me esforço, e as vezes nem preciso me esforçar, pra ver os lados positivos da minha relação com meu pai.Com isso, posso lhe afirmar que eu me sinto muito melhor vendo o lado bom dele!
Boa sorte com sua familia!

webmaster disse...

sábias palavras...
valeu!
mas as coisas são muito mais complicadas que reclamações, ou outros problemas de convivência. quem sabe um dia te explico.
o lado bom é que independente de qq coisa, sei q a gnt se gosta.

Fred Fagundes disse...

Não me lembro desse dia dos pais.
Mas realmente, eles sempre foram terríveis.
Como cada fim de semana. Com a diferença de que alguns finais de semana eram melhores. Consigo me lembrar vagamente disso hoje. Complicado.