sábado, 7 de novembro de 2009

coracao vagabundo

Meu coração não se cansa
De ter esperança
De um dia ser tudo o que quer
Meu coração de criança
Não é só a lembrança
De um vulto feliz de mulher
Que passou por meus sonhos
Sem dizer adeus
E fez dos olhos meus
Um chorar mais sem fim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim

sem pontuacao

ha muito que nao venho aqui e isso reflete um pouco toda a estrada que percorri desde que abandonei supostamente meu espaço me abandonei abandonei meus planos abandonei minhas conquistas curiosamente desde que dei o ultimo ponto no texto anterior que por sinal nem era meu eu desandei aprender a andar agora sera dificil e se voce me perguntar porque ou o que aconteceu eu nao saberei dizer e como se eu tivesse dormido para tudo o que eu mais gosto e começado a me jogar em locais onde eu nao queria estar inicialmente e dar um passo a descobrir que de fato nao sei quem sou nem onde quero estar tampouco onde quero chegar e o que eu terei que fazer para enfrentar e me surpreender com o futuro imediatamente agora eu só quero chorar depois nao sei mais nao ando me importanto tanto e tenho medo de perder mais nao que se trate de um jogo com conquistas e derrotas mas nao foi facil chegar onde estava e se voce me perguntar se foram conquistas foram conquistas sim que so tem importancia para mim agora eu nao quero ver gente nao quero ninguem para me dizer palavras de consolo pela primeira vez me sinto bem so doi mas estou bem me acostumei com a dor e ela e quem me faz sentir vivo agora talvez por isso eu goste tanto de sentila se antes eu precisava estar apaixonado agora eu preciso sentir essa dor que nao sei explicar onde e so sei o que me causa agora me deixem com minha dor enquanto penso se me entrego de uma vez a ela ou se busco um meio de respirar em paz novamente

domingo, 30 de agosto de 2009

Eu uso sinédoque, e daí...

tudo começou com meu irmão me pedindo para olhar no google o significado de sinédoque, palavra ausente do aurélio. Dentre tantos sites que explicavam, encontrei um texto que colo abaixo.

Esse é um post mensagem e o destinatário entenderá! Não sei falar sem sinédoque. Isso não significa que concorde completamente com o texto, porque no ápice da confusão e desgaste gerado numa conversa devido a uma simples sinédoque utilizada, nunca troquei um amigo pela sinédoque, ao contrário do autor do texto.

"Já faz um tempinho um jornalista que se dizia meu amigo veio torrar minha paciência com a seguinte frase: “não vale generalizar”. Ora, quando eu escuto alguém dizer isso, sei que o que vem adiante é estupidez.

Em certa medida escrever é generalizar. No caso específico do texto jornalístico (e também no texto literário), a generalização que comumente usamos é uma figura de linguagem autorizada pela gramática. Chama-se sinédoque. Todos nós podemos escrever o que escrevemos por causa da sinédoque. Sem ela, ficaríamos horas diante do teclado e não sairia nada – nadinha.

A sinédoque é a figura de linguagem que nos permite dizer coisas do tipo “o jogador brasileiro é habilidoso” ou “as mulheres são muito falantes” ou “os franceses são enjoados” e assim por diante. Em nenhum dos casos o leitor inteligente deverá, diante de alguém que escreve de modo inteligente, fazer a objeção “ah, nem todo francês é enjoado, isso é preconceito”. O mesmo vale para os outros exemplos. Ninguém deve dizer “ah, nem todo jogador brasileiro de futebol é habilidoso, hoje em dia a habilidade está com os italianos”. É outra bobagem. A sinédoque dá completa liberdade para que as características mais amplas sejam utilizadas em associação a um termo que, sem a figura de linguagem, não mereceria a característica imputada. Essa figura de linguagem é das mais importantes. Por uma razão simples: tente escrever sem ela. Tente e verá como é difícil, talvez impossível.

A sinédoque é o que alguns desinformados tomam por “generalização”, e então pensam poder acusar quem está “generalizando” de ato impróprio. Ora, não podemos escrever frases do tipo "os são-paulinos são barulhentos, mas o Huguinho, o Zezinho e o Luisinho, e mais o fulano X e o Y, não são". Não faria qualquer sentido um texto assim. Ou seja, quando escrevemos optamos quase que naturalmente pelo uso de vários tipos de sinédoque. Falamos sem medo de quem alguém acredite que se está falando do Huguinho ou do Zezinho etc., torcedores do São Paulo, que “os são paulinos são barulhentos”. O leitor inteligente sabe disso. O leitor inculto não. O leitor inculto e, pior, mentalmente limitado inventa de criticar e solta a frase imbecil: “não vale generalizar”. Isso ferve o meu sangue.

Faz algum tempo, o tal jornalista que se dizia meu amigo quis ficar bravo comigo exatamente por causa do que achou que era a tal generalização. Eu disse uma frase desse tipo, “o Partido X é elitista”. Pronto! Do cume da sua má formação, o jornalista inventou de dizer “filosofar é generalizar?”. Quis dar de bonzão. Quis imputar a mim uma raciocínio errado quando, na verdade, era uma sinédoque clara, para poder conversar. Estava feita a desgraça. Eu podia deixar passar. Mas a irritação do cotidiano e a constante falta de modéstia da figura carimbada não me deram chance, e eu rebati. Disse ao jornalista que ele não era a sumidade intelectual que ele queria fazer crer. Em nome da sinédoque, perdi o amigo. Todavia, será mesmo que era amigo?

Claro que a vaidade do tal amigo urso era grande demais para ele admitir que não sabia sinedocar. E então arrebentou em palavrões – aquela coisa do cara que é pego de calça arriada.

Moral da história. A sinédoque garante que possamos continuar escrevendo para todos e tendo mais amigos. Um amigo escolarizado que não conhece a sinédoque pode causar só complicações. Opte pela sinédoque."

Paulo Ghiraldelli Jr, “O filósofo da cidade de São Paulo”.

Fonte: http://ghiraldelli.ning.com/profiles/blogs/sinedoque-e-generalizacao

sábado, 22 de agosto de 2009

"Minha vida é como se me batessem com ela"

(Livro do Desassossego - Fernando Pessoa)

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Desafinado

Só privilegiados têm o ouvido igual ao seu
Eu possuo apenas o que Deus me deu

Se você insiste em classificar
Meu comportamento de anti-musical
Eu mesmo mentindo devo argumentar
Que isto é Bossa Nova, isto é muito natural

Recentemente ouvi uma professora falar sobre as teorias da física quantica que tentam explicar a existência da alma, da consciencia, da empatia... acredita-se que todos emanamos ondas, que seriam nossa alma quantica. A princípio, e para não perder o hábito, pensei que isso era muita besteira, pura fantasia científica para explicar Deus e tudo aquilo que não conseguimos explicar exatamente porque possivelmente não há explicação. A existência divina e sua criação não precisa ser explicada. Tem que acreditar e ponto.


Entretanto, algumas coisas fazem sentido, por exemplo porque o olhar atrai? Quando olhamos para uma pessoa concentramos ondas nesta pessoa, provocando nela a percepção que estamos olhando. Porque algumas pessoas são tão carismáticas naturalmente, qual a explicação para o carisma e a antipatia que sentimos pelo outro? As pessoas carismáticas emitem ondas harmônicas que atream as ondas alheias, têm de fato um magnetismo. As pessoas antipaticas emitem um padrão de onda desarmônico que repeliria tudo.


"Entao explicado... putz..." - pensei lembrando de mim, e de outras pessoas que conheço que têm um magnetismo incrível. Difícil ser o outro lado da moeda, aquele que caiu com o lado para baixo. Existem muitas formas de estar desalinhado, desafinado, des... tantas outras palavras que poderiam caracterizar meu conjunto de ondas sem ritmo que remam para a solidão.

Se os físicos querem explicar minhas ondas, eu lhes respondo que são as ondas que Deus me deu.

domingo, 9 de agosto de 2009

Abre o meio!


Vida de motô(rista) de ônibus não deve ser fácil mesmo...
Além de tudo que já sabemos da rotina diária, outro dia peguei um ônibus daquele que tem uma porta no meio para cadeirantes, e que em alguns pontos estratégicos alguns motoristas resolvem abrí-la para agilizar o desembarque dos passageiros. Pois bem, eu disse alguns motoristas fazem isso. Não todos. Mas a mania de generalização soteropolitana exige que a concessão seja aberta a todos!
Imagine o motorista ouvir o côro dos passageiros:

- ABRE O MEIO MOTÔ!

Isso é no mínimo cômico... Lá ele...


sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Poética popular

(Alphavela João Henrique - Tororó, Salvador/BA)

Há um tempo atrás, quando morava no Tororó, vi crescer a alphavela do Tororó, uma das mais recentes e promissoras invasões de Salvador. Nesta época a invasão me mantinha atualizado com os sucessos do pagode baiano, do arrocha, do forró, dos bordões que andavam na boca do povo, porque afinal, mesmo minha janela estando a uma altura de 8 andares das casas, poderia ouvir suas conversar como se estivessem na minha sala. O Tororó sempre foi um bairro meio classe mé(r)dia média para baixa e com o recente assassinato do líder comunitário a pauladas na cabeça pelo seu amante, precisávamos respirar outros ares, de classe tão mé(r)dia quanto aquele ou melhor.

(Tirei o pé da favela!)

Desaguamos no Rio Vermelho, tradicional bairro boêmio da cidade e curiosamente situado numa encruzilhada de antigas e também tradicionais invasões (atrás da minha rua tem o Vale das Pedrinhas, ao lado o Nordeste de Amaralina e um pouco mais atras Santa Cruz). Infelizmente não ouço mais as músicas e sim a sinfonia dos carros dos futuros doutores da faculdade Ruy Barbosa, entretanto, vez em quando divirto-me com algumas pérolas populares, como este diálogo travado em frente a janela do meu quarto.

- O QUE É VIADO!
- SOU VIADO MESMO, PORQUE? NÃO É DE SUA CONTA O QUE EU FAÇO COM MEU CÚ! PUTA!
- E PRA QUEM EU DOU MINHA BUCETA NÃO É PROBLEMA SEU! TEM UM MONTE DE HOMEM QUERENDO COMER MINHA BUCETINHA... PIOR VOCÊ QUE NINGUÉM QUER COMER SEU CÚ! SEU VIADO FILHO DE UMA PUTA!
- O QUE É SUA VIADA! NÃO XINGUE MINHA MÃE NÃO!
- ÊPA ÊPA ÊPA! QUE ZONA É ESSA AQUI? DOIS VIADO COM DOIS SAPATÃO CONVERSANDO? QUE FOI Q TEVE? - Disse um jovem que chegou, fardado com a mesma farda dos barraqueiros, provavelmente um colega.
- ESSA PUTA, VADIA, TAVA PEDINDO DINHEIRO NA PORTA DO BOMPREÇO!
- MENTIIIIIIIIRAAAAA! MENTIRÔÔÔSOOOO! VIADO MENTIROSO! FILHO DA PUTA!
- E AINDA FICA XINGANDO MINHA MÃE! NÃO FALE DE MINHA MÃE VADIA!
(agora a melhor parte...)
- É ISSO MESMO, FALAR DA MÃE NÃO PODE! XINGAR O PAI PODE PORQUE QUEM ABRIU A BUCETA PRA ME PARIR FOI MINHA MÃE E O PAI NÃO TEM NADA A VER COM A HISTÓRIA!

(Cheirinho de bebê...)

Depois dessa... não aguentei e caí na risada... até anotei. Fiz meu irmão postar no twitter - na época eu ainda não havia aderido aos 140 caracteres, e agora compartilho com vocês para ver se finalmente esse diálogo sai da minha cabeça. Tenham certeza que a baixaria foi muito maior. Mas onde quero chegar com isso. A grande metáfora do parto. Da mesma forma que alguns poetas profetizam o nascimento com metáforas elaboradíssimas, os poetas da vida simplificam o evento. Parir nada mais é que "abrir a buceta". Feio não?! Com certeza, meu nascimento não foi simples desse jeito não... afinal, nasci de cesárea!

obs: o contrário também já ouvi de uma mulher saída do banheiro químico, na lavági do bonfim: terminar de urinar = fechar a buceta.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

dia dos pais


Dia dos pais é sempre uma época difícil. Só de imaginar que ele está chegando já bate aquela melancolia, aquelas lembranças difíceis. Nem tudo foi tristeza, nem sempre foi assim, você pode pensar que é só uma data comercial, e é mesmo, entretanto como tudo na vida carrega um símbolo, um peso inegável de que um dia eu vou me arrepender (ou já me arrependi) de muitas coisas que foram ditas, de muito tempo perdido... sempre é tempo de reparar... tenho medo de não conseguir enquanto ainda dá tempo. O que ele nem imagina, é que quando eu falei no post anterior de quando perdi o controle do carro, o carro girou na pista, etc, ele foi a primeira pessoa que veio a minha mente. Também pelo carro, óbvio, mas... foi ele a primeira pessoa que eu pensei. Ah se ele soubesse... eu poderia falar essas coisas... eu deveria dizer tantas coisas... mas não vou. Parece tão simples, mas se já foi difícil escrever essas poucas linhas, imagina botá-las em prática.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Eu e os carros

"O motor... é o coração do carro... você tem que sentir o motor... sentir a sua aceleração, sentir ele pedindo para passar a marcha..."

(ahh se meu carro falasse...)

O texto que decoradamente meu pai me repete infinitas vezes que fala sobre o carro para mim. E pelo jeito que ele descreve, demorou até compreender que o carro não tem vida própria... quando a merda acontece, a culpa não é simplesmente do carro, ou pior, dos outros (que não sabem dirigir). Sou um barbeiro em recuperação.



Consegui a façanha de no mesmo dia bater o carro em um outro no qual estava sentado um policial mais outros 2 delinquentes (que já renderia outra história), acabar com as calotas do carro e receber 2 multas de velocidade. Sou um perigo à sociedade. Onde o DETRAN estava quando me aprovou, de primeira, nos exames? É a prova da ineficácia desses testes... se até eu consegui, qualquer um consegue... Devo ter passado muita seriedade e confiança por tras da minha seriedade lacônica de quem está se cagando de nervoso.

Pior que tudo isso, é ser tão jumento por ser multado pouco acima do limite de velocidade aceitável. Se é pra ser multado, que seja com louvor... acima de 120 km de velocidade. Foram apenas 4 minutos de diferença entre uma multa e outra. Numa madrugada isso não significa tanto, embora me induza a pensar que eu tenha andado no limite durante todo o percurso e acelerado exatamente para ser fotografado pelos flash dos radares.

("cada mergulho é um flash!")

O saldo disso é que inconsciente, sei que eu queria provar para mim que não era tão péssimo assim. Enquanto todos andavam devagar para não serem fotografados naqueles dois locais em que todos sabiam que existiam radares menos eu, pensava: "que galera lerda é essa? e são 2:30 da manhã?!" e habilmente ultrapassava todos enquanto eles pensavam: "que otário! não sabe que aqui tem radar!"


Curiosamente, procurando fotos para ilustrar esse post, encontrei um flagra glorioso de excesso de velocidade na mesma rua onde fui multado, entretando no sentido oposto. Isso é que é ser multado com estilo!

(Os dois sem capacete, o cara sem camisa, a mulher nua e só vão ser multados por excesso de velocidade? fala sério...)

Para finalizar meu histórico, recentemente perdi o controle do carro na avenida centenário. Foi Deus quem desviou os postes e retirou todos os carros da rua naquele momento.

("Nessas horas passa um filme! Ô louco mêu...")




assisti hoje "o escafandro e a borboleta" e ao contrário do que muitos diziam (que eu não gostaria, que não tenho sensibilidad para o filme e que dormiria), guardarei uma cópia em casa para rever em todos os momentos que eu esquecer a dádiva que é viver. dentro de um escafandro ou não, todos temos borboletas para nos dão força. é o que em parte, ainda me move.

sábado, 1 de agosto de 2009


Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.

A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.

Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...

Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

(paulo sant'anna)

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Lamento Sertanejo

(Dominguinhos/Gilberto Gil)

Por ser de lá do Sertão
Lá do cerrado
Lá do interior, do mato
Da caatinga, do roçado
Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigo
Eu quase que não consigo
Ficar na cidade sem viver
Contrariado.
(...)
Sou como rês desgarrada
Nessa multidão, boiada
Caminhando a esmo.

Não sou do sertão, mas é como se fosse. Vivo nele. Estou no sertão. Louco para ver o mar e a sua imensidão, e ficar ali parado, admirando, pensando como pode tanta água não servir p'ra beber. Sentir a brisa do mar, sopro divino de liberdade, fazendo cócegas nos meu braços, me acariciando. Como seria bom sentir suas carícias... não sei o que seja isso, mas imagino que sensação maravilhosa seria recebê-las... um arrepio. Quem se acostumou tanto com o arreio e a enxada tem mão grossa demais para fazê-las. Imagino que talvez nem saiba recebê-las, mas que mal faz sonhar.

Certa vez, consegui ler uma frase de caminhão, por entre a poeira que ele levantava: "sou do tamanho que vejo e não do tamanho da minha altura". Carái... intão eu posso ser do tamãnhi dessa poeira que me cega, até as estrela que'u nunca vi... eu posso ser do tamãnhi do infinito... do tamãnhi que'u quiser...

O que só tenho percebido agora é que isso leva tempo, pois envolve duas questões: a primeira, eu preciso saber o que eu vejo (ora pois, sabemos que ver é diferente de enxergar, e que nem tudo que reluz é ouro). Em seguida, de que tamanho eu quero ser.

Talvez eu não tenha tempo para perder pensando nisso... talvez pensar nisso seja ganhar tempo... o que para muitos é difícil de entender é que tempo, para mim, é fundamental e questão de ordem.

Para quem viveu tão pouco e se privou de tanto, cada segundo perdido é, de fato, um segundo perdido... é a certeza que há tantos segundos lá fora, esperando para serem perdidos, e eu perdendo segundos... minutos... horas... aqui dentro. Espero que uma dia chegue a conclusão que a preocupação com o tempo é imaturidade, ou foi imaturidade.

Viver a vida não é o bastante pra mim. Isso é o que eu faço todo dia. Eu quero tocar a vida, quero abraçá-la, quero prová-la com minúncia, sentindo as nuances do seu sabor nas diferentes regiões da minha língua. Para depois vê-la por inteiro e por fim niná-la.

terça-feira, 7 de julho de 2009

"Cê" tem toda razão

não tenho inveja da maternidade
nem da lactação
não tenho inveja da adiposidade
nem da menstruação

só tenho inveja da longevidade
e dos orgasmos múltiplos
e dos orgasmos múltiplos
eu sou homem
pele solta sobre o músculo
eu sou homem
pêlo grosso no nariz

não tenho inveja da sagacidade
nem da intuição
não tenho inveja da fidelidade
nem da dissimulação

só tenho inveja da longevidade
e dos orgasmos múltiplos
e dos orgasmos múltiplos
eu sou homem
pele solta sobre o músculo
eu sou homem
pêlo grosso no nariz

(Homem - Caetano Veloso, álbum Cê)
Concordo co-cê caÊ...

obs: fiquei fã extremamente tarde de caetano...

segunda-feira, 13 de abril de 2009

"Viver é entender as pessoas errado"

“Já estamos entendendo errado as pessoas antes mesmo de encontrá-las, enquanto ainda estamos prevendo o que vai acontecer; entendemos errado enquanto estamos diante delas; e depois vamos para casa e contamos a alguém sobre o encontro, e de novo entendemos tudo errado. Uma vez que a mesma coisa acontece com os outros em relação a nós, tudo vira uma ilusão desnorteante, destituída de qualquer percepção, uma espantosa farsa de incompreensões. E, com tudo isso, o que é que vamos fazer a respeito dessa questão profundamente significativa que são as outras pessoas, que se veem drenadas de toda a significação que julgamos ser a delas e adquirem, em vez disso, um significado burlesco, o que vamos fazer se estamos tão mal equipados para distinguir os movimentos interiores e os propósitos invisíveis uns dos outros? Será que todo o mundo devia trancar a porta de casa e ficar quieto, isolado, como fazem os escritores solitários, em uma cela a prova de som, invocando as pessoas por meio de palavras e depois sugerindo que essas pessoas feitas de palavras estão mais próximas das coisas reais do que as pessoas reais que deturpamos todos os dias com a nossa ignorância? Persiste o fato de que entender direito as pessoas não é uma coisa própria da vida, nem um pouco. Viver é entender as pessoas errado, entendê-las errado, errado e errado, para depois, reconsiderando tudo cuidadosamente, entender mais uma vez as pessoas errado. É assim que sabemos que continuamos vivos: estando errados. Talvez a melhor coisa fosse esquecer se estamos certos ou errados a respeito das pessoas e simplesmente ir vivendo do jeito que der. Mas se você é capaz de fazer isso… bem, boa sorte.”

Pastoral americana. 1997. Página 48. Philip Roth.

Texto que li no blog Meu nome não é superoito. Curiosamente apareceu no momento certo, respondendo algumas perguntas. Uma puta coincidência...

Depois dessa, só lendo esse livro...

sábado, 14 de março de 2009

Alguma dor


Não foi em vão

"Agora posso ir e não olhar pra trás
Passado tudo aquilo que se desfaz
Foi bom viver mais uma vez, saber te perdoar
E dar por fim da mágoa desse mal amar

Hoje quero crer que não foi mesmo em vão
Escolho solitude à solidão
Foi bom te ter mais uma vez, poder te abandonar
E dar por fim da mágoa desse mal amar

Quem feriu meu coração fui eu, mais ninguém
Quem feriu teu coração foi você"



É, fui eu sim, e mais ninguém...
Cada um é o maior responsável pela própria dor.
Seja ela qual for.
Não é egoísmo não querer compartilhá-la.
Apenas, neste momento, não quero contaminar ninguém.

sexta-feira, 13 de março de 2009

A ereção

Um samba danano de bom da Orquestra Imperial que descreve muito bem a situação, por vezes até constrangedora devido ao momento inoportuno, porque afinal, não contolamos!


Uma cerveja uma aguardente com limão
eu vou lá na gafieira vai ser a maior curtição
de madrugada uma rodada no salão
mas cuidado a brincadeira pode causar ereção.

A ereção não tem hora pra chegar
com ou sem emoção em festa ou particular
a inspiração que chega desavisada
cada passo é uma cilada que te diz a direção
ou não!

Intimidade baiana

Baiano é meio assim, você dá um oi num dia, e no outro já te chamam pra jantar em casa. Isso para exemplificar o nível de intimidade que tenho com a moça do caixa da cantina onde almoço normalmente. Minhas conversas com ela não passam de brincadeiras sobre o preço do quilo que aumentou, a desatensão dela quando me dá o troco maior do que deveria - sim, eu sou honesto - e principalmente sobre a (des)honestidade da balança que, normalmente, quando há uma corrente de ar no local, o preço do meu prato oscila para mais.
Mesmo assim, após um exaustivo dia no qual não pude parar nem para beber água, fui "almoçar" um salgado às 17h quando travei o seguinte diálogo.
- sobrou pastel de quê essa hora?
- tem de frango e de frango com catupiry.
- eu sei que não é catupiry mas me dê esse mesmo.
- poxa, sua pele é oleosa né?!
- é mesmo, uma hora dessa deve tá parecendo um espelho né?!
- é mesmo... horrivel...
O.O
- poxa... brigado...
- ô! poxa... desculpa...

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Buscando Dalila

Após os baianos terem requebrado na boquinha da garrafa, segurando o Tchan do Japão ao Hawaií, ver a mulher brasileira “toda bôa” transbordando numa latinha e “arrêando” com o Asa no “cuduro”, estão querendo crussificar Dalila! Tenho ouvido severas críticas à letra da música. Eu não podia ficar de fora da discussão acerca da qualidade da forte candidata à música do carnaval 2009. Ao saber que trata-se de uma obra do maestro Brown, o cara que não dá ponto sem nó, realizei uma análise de conteúdo a fim de defender Dalila, para surpresa geral.


Para aqueles que tem falado que a música é besta, lá vão alguns argumentos:
1. Para começar, é uma música de carnaval, de festa, para animar o público. E neste caso, pouco importa o conteúdo! No quesito animação, pode-se observar que ela preenche satisfatoriamente.

2. Fala-se que a música “só tem vai buscar Dalila”. Retirando do baú um dos ícones do carnaval, a música Prefixo de Verão foi imortalizada pelo refrão mais simples e besta já visto “aê aê aê aê êêêê ôôôôô”, e mesmo assim foi/é sucesso e marca registrada do axé. Além do mais, o restante de Dalila é cantado muito rápido para valorizar o ritmo acelerado e a animação, afinal o conteúdo não é o mais importante.

3. Apesar disso, a música fala sobre o carnaval, sua energia, sua universalidade capaz de proporcionar diversão e muito trabalho. Para que a festa aconteça, tem muita gente ralando para fazer o trio andar, do motorista ao operário e o batuqueiro, todos dão o sangue, fazendo o impossível para satisfazer os foliões, pagantes e pipocas, mesmo que seja indo buscando Dalila ligeiro, ligeiro, ligeiro, ligeiro...

Obs: E por falar nela, quem foi Dalila? Como diria “Cumpadi Uóchitu”, Dalila foi uma ordináááária... uma Piriguete Profissa que seduziu Sansão para descobrir qual seu ponto fraco e entregá-lo aos inimigos.

Se convenceu? Não? Então tchau, I have to go now.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Se plante!

Hoje enquanto andava, um amigo me disse: "Véi, se plante!"

Foram 5 segundos que viajei para a eternidade de todas as formas possíveis de significado dessa frase, menos o real sentido dela.

Pensei em várias plantas, nas árvores frondosas que há anos estão fincadas em nosso solo, pensei numa árvore antiguíssima que vi ontem aqui perto de casa, daquelas árvores que parecem sustentar o céu com a copa.

Pensei num homem planta com as pernas em forma de tronco de árvore fincado ao chão e os braços como um aglomerado de cipós, sem mãos - devo ter visto isso em Caverna do Dragão alguma vez...

Pensei num homem vegetal, numa vida vegetativa... do tipo "O Escafandro e a Borboleta" e me imaginei inutilizado numa cama, mandando sinais com o piscar dos olhos.

Véi, se plante... que zorra é essa... pensei como eu sou desatualizado e por fora do vocabulário das pessoas da minha idade... pensei como eu sou velho, nem sei que porra quer dizer isso! Me senti tão Benjamin Button... fiquei realmente plantado sem entender até a mulher desse amigo dizer "faça assim!" - deixando a coluna ereta, peito para fora, barriga para dentro - procurando a postura viril de homem caçando a fêmea, a postura que atrai a mulheres.


E então num rápido flash lembrei-me das inúmeras vezes que ele sempre me fala "olha a postura!" e me compara que ando todo metralhado (essa gíria está correta?) ao estilo Bob Esponja... Mas até o Bob Esponja tem postura... talvez eu esteja mais para Homer Simpsons.



Seven pounds

Fiquei devendo a mim uma crítica sobre este filme, aclamado pelo público - afinal tem Will Smith, sucesso de bilheterias, como personagem principal, odiado pela crítica. Mas porque esse filme consegue ser tão adorado e odiado ao mesmo tempo?

Detonando - isso é fácil: A direção é pobre e clichê, tentando fazer a absolutamente todo instante o público chorar, mal sabendo eles que as cenas mais emocionantes curiosamente não eram aquelas em quem Will aparecia com os olhos marejados de lágrimas, muitas vezes inexplicavemente. A câmera é previsível e brega - a saber pela cena de sexo do casal do filme. O filme parece uma tentativa forçada de alcançar o mesmo sucesso obtido em "À Procura da Felicidade", entretanto neste caso a atuação de Will está sete vezes superior que em Sete Vidas.

Porque assistir então? Porque as histórias de vida das sete pessoas que ele ajuda são emocionantes e os atores que as vivenciam estão ótimos. Além disso há uma bela discussão acerca do peso da culpa, afinal dar a vida a outras 7 pessoas não irá trazer de volta as 7 vidas perdidas num acidente de carro que ele provocou. Pode aliviar a consciência, mas... Chama muito mais a atenção o gesto de doação em prol da vida de um estranho, ao ponto de rejeitar a própria vida. Sete Vidas é um soco na cara para que acordemos para a dádiva da vida, para que saibamos aproveitá-la enquanto temos, principalmente para os indivíduos cheios de saúde que dizem não à vida.

Trauma de carnaval

Concordando com Freud, todo trauma tem origem na infância... lembro-me de que quando criança detestava o carnaval porque eu não fazia nada. Eram cinco dias em frente da tv, "curtindo" o carnaval transmitido pela Rede Verão da Bahia, e morrendo de vontade de ir para rua com meu pai, que não queria me levar alegando que eu ia me perder, não conseguiria ver nada, é muito violento, durante o dia é muito quente, pela noite pode chover... enfim, ele não me levava porque não queria e pronto. Queria brincar o carnaval sem se preocupar com absolutamente nada.

Até então eu ainda gostava de axé, e muito. Depois eu me tornei um adolescente nerd, chato e solitário, que ainda assim intimamente gostava de axé e carnaval, mas não tinha com quem ir para rua, sair em bloco de carnaval, pegar mulher, beber e todas essas outras coisas que envolve o carnaval. É exatamente nessa época que meu pai resolve me levar para ver o carnaval, e eu até que ia... arrastado e rezando para que nenhum colega da escola que saiu com os amigos num bloco ou pipoca me visse com meu pai parado na calçada vendo o bloco passar... A situação me induzia a dizer a todos que não saía num bloco porque não gostava de carnaval (cof, cof...).

E essa mentira tantas vezes repetida... que água mole em pedra dura... passei a rejeitar os ritmos e as festas populares. Quanto mais estranho e desconhecida era a banda, mais eu gostava. Se fizesse sucesso, deixava de gostar. Para completar o quadro, nessa época minha família tinha o hábito de fazer uma feijoada todo domingo de carnaval. Todos os familiares próximos residentes em Salvador iam para a minha casa encher o bucho e meu pai fazia questão de cantar e dançar as músicas do carnaval na frente de todos, para então dizer que eu não gostava de carnaval - apenas para me atingir... eu era o jovem velho e ele o velho jovem. Ele sai sozinho para o carnaval e eu fico em casa - vale ressaltar que ele faz questão de contar isso a todos os sobrinhos e irmãos.

Hoje, depois de ter dado uma guinada de 360º em minha vida, aderido aos festejos populares - festas de largo, às drogas de modo geral, ao ritmo que tocar - do folk alternativo ao cuduro, ainda não consegui dizer sim ao carnaval. E isso entrar para a minha lista de coisas que tenho que fazer antes de morrer - sim, porque nunca se sabe quando será (ainda mais para um cardiopata que se recusa a ir num médico). Agradeço a todos aqueles que me convidam insistentemente para o carnaval... não desistam :D

Para finalizar, neste exato momento acabo de saber que meu pai ganhou um abadá da sexta-feira do bloco Yes e deu para uma sobrinha... Esse é o meu pai...

A verdade é que tenho que aguentar tanta energia negativa que emana dele, que me tira o ânimo, o fôlego... se você me pedir para resumir meu carnaval em uma palavra eu direi CAMA. Só levantei para desabafar com esse texto o qual após eu clicar em publicar me arrependerei e quem sabe deletarei.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Nas cinzas das horas


Conhecimento é poder... e parafraseando homem aranha, um grande poder requer uma grande responsabilidade...
Hoje tenho consciencia de que não precisamos de tanto poder, exatamente porque também não suportamos tanta responsabilidade.
Hoje também tenho certeza de que não era para eu saber tanto de tudo, quando era incapaz de compreender a sua grandiosidade, as adversidades das diversidades.
Hoje já é muito, mas muito tarde para me lamentar pelos erros cometidos pelo excesso de poder, quando fui tomado pela ira e pela fúria, quando o ódio envenenava meu sangue.
Hoje só me restam as "cinzas das horas".

Curiosamente, acabo de ouvir Adriana Calcanhotto cantar numa musica, que eu não conhecia até então, a seguinte frase:


"tenho por principios nunca fechar portas,
mas como manter elas abertas"


Era isso que eu devia ter descoberto há tempo atrás, antes de ser escravo do arrependimento.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Só pra variar... um poema de Fernando Pessoa

Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei
com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se
existe (se é esses outros)...
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me
ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me
ponta
traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha,
nem ela
julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros
espelhos fantásticos
que torcem para reflexões falsas
uma única anterior
realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente
árvore (?) e até a flor,
eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas
alheias, em mim, incompletamente,
como se o meu ser participasse de todos os
homens,
incompletamente de cada (?),
por uma suma de não-eus
sintetizados num eu postiço."

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Você pode fumar baseado

O mal é o que sai da boca do homem
Composição: Pepeu Gomes/Baby do Brasil/Galvão

Você pode fumar baseado
baseado em que você pode fazer quase tudo
Contanto que você possua
mas não seja possuído


Porque o mal nunca entrou pela boca
do homem...
Porque o mal é o que sai da boca
do homem...

Você pode comer baseado
baseado em que você pode comer quase tudo
Contanto que deixe um pouquinho
um pouquinho de fome

Porque o mal nunca entrou pela boca
do homem...
Porque o mal é o que sai da boca
do homem...

Você pode beber baseado
baseado em que você pode beber quase tudo
Contanto que deixe um pouquinho
um pouquinho pro santo

Porque o mal nunca entrou pela boca
pela boca do homem
Porque o mal nunca entrou pela boca
do homem...
Porque o mal é o que sai da boca
do homem...